Depois das festas de Natal e de posts instigantes dos novos membros de nossa equipe sobre choque de direitos fundamentais e o poder difusor das redes sociais, chega a hora de abordar um tema tão contundente quanto os anteriores: a prescindibilidade do Facebook para os usuários da Internet. Em meio à massa de usuários conquistados pela febre da rede social azul, por vezes sussuram vozes dissidentes: será que precisamos realmente participar disso?
O Facebook é a rede social que mais cresce no Brasil nos últimos meses. Inclusive, de acordo com algumas fontes, o sistema de Mark Zuckerberg já ultrapassou o Orkut em número de acessos únicos por brasileiros. As razões do sucesso dessa rede social? Seu caráter plural tendente a global e a facilidade de interação e divulgação. No Facebook encontramos pessoas que foram ao colégio conosco e pessoas do outro lado do mundo, com quem nunca nos depararíamos na vida offline. Podemos comentar os comentários dos comentários dos outros e divulgar em tempo real a nossos amigos todas as “coisas legais” (a alta abrangência do termo justifica-se pela necessidade de conter desde a notícia internacional sobre a queda de Gaddafi até uma declaração de amor melancólica e cheia de coraçõezinhos vermelho-sangue à personagem Edward Cullen) que encontramos pela web. Enfim, os defensores do fenômeno argumentam que o Facebook trouxe a socialização humana a um patamar de mais intensa e facilitada comunicatividade.
Entretanto, há quem pense que maiores oportunidades de comunicação não implicam necessariamente no estreitamento de laços sociais, e tampouco na construção de uma vida social – online e offline – saudável. Sob esse ponto de vista, o Facebook se constitui não em um promovedor de vínculos entre as pessoas, mas um facilitador de competições e comparações fúteis entre perfis, processos que podem desdobrar-se em verdadeiras perversões sociais. Defensores dessa premissa estão presentes no YouTube, onde publicam vídeos críticos (e bem-humorados) sobre a prescindibilidade do Facebook para as vidas de seus usuários. De maneira a ilustrar esse ponto de vista “contra-hegemômico”, foram selecionados dois vídeos.
O primeiro vídeo, You Need To Get Off Facebook (“Você precisa sair do Facebook”), de autoria de Ross Gardiner, aborda a preocupante relevância que é dada às aparências na rede social, relevância fortalecida por operações – a seu ver fúteis – como tagging (“marcar”), liking (“curtir”), poking (“cutucar”). Gardiner, de cartazes em punho em uma rua movimentada na Coreia do Sul, alega que o Facebook não é uma ferramenta estimuladora de vínculos de amizade; é antes um ambiente propício para o surgimento de juízes implacáveis e solipsistas, infatigáveis na arte da comparação entre uma vida e a vida alheia a cada atualização de perfil. Para sair desse ciclo de dita perversão social, Gardiner dá a dica: o primeiro passo é acreditar que “você é mais do que o seu perfil”. E delete account. [A versão legendada em português pode ser vista aqui]
O segundo vídeo, What Facebook Is For (“Para quê serve o Facebook”), publicado no canal de somegreyblock, é uma animação em que um usuário de meia idade apresenta de forma divertida e irônica seu perfil no Facebook. O descrédito quanto à possibilidade de estabelecimento de vínculos mais profundos aparece já na descrição da rede social. Em clara alusão a jogos como World of Warcraft, a personagem diz que o Facebook é um jogo de interpretação de personagens online para múltiplos jogadores em massa, cujo objetivo é coletar, não pontos ou objetos místicos, mas “amigos”.
São pontos de vista que merecem atenção, levando-se em conta seu relativo isolamento, sua coragem e sua parcela de lucidez. Vozes dissidentes como essas fazem com que nos perguntemos: será que não estamos deixando nossas vidas reais para trás em prol de atividades virtuais mesquinhas? Será que as redes sociais não são uma forma de simplificação do ser humano? Vozes dissidentes, por óbvio, também suscitam outras vozes, desde comentários apaixonados – e pendentes para ambos os lados – até vídeos em resposta. À alegação de Gardiner de que o Facebook nos simplifica e idiotiza, Emily, em vídeo próprio e paródico, respondeu: idiotas existem em todo o lugar, quem faz o Facebook – idiota ou não – é você. E agora? Mais perguntas surgem! Até que ponto somos nós que fazemos o Facebook e até que ponto a grande massa e o próprio sistema influem nesse processo?
Tendo em vista o crescimento do fenômeno Facebook nos últimos meses e a aura implicitamente imperativa de que se reveste esse sistema dia a dia (basta ver os olhares de espanto quando se alega ainda não ter um perfil), nós, não apenas como pesquisadores, mas como usuários críticos da Internet, temos o dever de deter o mouse e nos perguntarmos: precisamos realmente do Facebook? Por um lado, ele nos conecta, por outro, aliena-nos. Estaria Oscar Wilde certo ao dizer que “o supérfluo também é necessário”?
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Com incrível – mas perdoável, por favor – atraso, divulgamos que o BaixaCultura postou sobre o NUDI no dia 16 de dezembro! O post resume com propriedade e leveza as atividades do Núcleo, ademais de prestigiar nosso trabalho.
Agradecemos pelo interesse e aproveitamos o momento para instigar nossos visitantes a fazerem uma visita ao blog do BaixaCultura, já integrado à nossa barra permanente de links. Como já dissemos, esse espaço concentra suas atividades na informação, divulgação e discussão de conceitos, acontecimentos e propostas ligadas à cultura livre e à (contra)cultura digital; aborda os direitos autorais e culturais sob uma perspectiva alternativa, defendendo a primazia da sociedade no acesso a bens culturais e a necessidade de adaptação dos entes públicos e privados às contingências digitais. Vale a pena conferir!
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Despeço-me com o desejo de um Feliz Ano Novo para o NUDI e para todos que nos apoiam, seja lendo, participando, comentando ou maximizando fotos! Até 2012!